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O melhor do escritor é o texto
Eu nunca pensei em escrever profissionalmente, aconteceu.
Sara Goldschmidt


Ruth Rocha, escritora paulista de 70 anos, foi uma das autoras mais assediadas nos dois primeiros dias da 1ª Jornadinha Nacional de Literatura. Autora de invejáveis 130 livros dedicados para o público infanto-juvenil, Ruth não poupou esforços para atender a todas as crianças e adultos que estiveram presentes nas Conversas com escritores, onde falou sobre sua vida e sua obras e, em seguida, respondeu às perguntas dos pequenos leitores.Após a atividade, Ruth concedeu entrevista à Assessoria de Imprensa da Universidade de Passo Fundo.


A senhora cursou o primário e o ginasial no Colégio Bandeirantes, onde tentou escrever o primeiro livro. Porque não deu certo a tentativa?
Porque eu era uma criança. A literatura exige uma formação, exige que a gente consiga destacar no texto o que é literário, compreender o que é literatura. Eu não tinha, naquele tempo, formação para isso, então o que eu escrevia era bobagem. A gente pode escrever até coisas bonitas quando se é criança, mas não tem coerência, não tem consistência para se tornar uma obra. São coisas emocionantes às vezes, são coisas que até nos fazem chorar, mas não que nos fazem pensar.

E porque demorou tanto tempo para tornar concreto esse desejo de escrever um livro?
Demorei muito porque fui estudar sociologia, trabalhei como orientadora muitos anos, fiz curso de pós-graduação... Não pensava mais em escrever. Eu nunca pensei em escrever profissionalmente. Aconteceu na minha vida.

Como você encara a responsabilidade de escrever para o público infantil?
Evidentemente eu sei que se deve ter uma responsabilidade. Agora, uma criança não deveria ler só meus livros, ela tem que ler muitos livros e de várias pessoas. Porque? Porque cada um tem suas opiniões, suas posições políticas, ideológicas, cada um acha uma coisa da vida. Então, o ideal é que as pessoas, todas, não só as crianças, leiam livros de vários autores, para poder ter uma visão do mundo mais multifacetada, mais rica. Eu sei que é uma responsabilidade de todos que escrevem para crianças, mas nós não gostamos de pensar que temos uma responsabilidade pedagógica. Gostamos de pensar que temos uma responsabilidade artística, que termos de transmitir para as crianças aquilo que é artístico, não o que é utilitário. Dessa maneira, se você educa uma criança para a arte, você educa a criança para a literatura, influencia a criança no sentido humanitário, da justiça, da ética. É isso que a gente pensa que pode transmitir, porque é o que a gente sente. Eu procuro por isso no que eu escrevo, quer dizer, nem procuro, isso sai. Não é preciso procurar o que colocar no livro, a gente tem dentro da gente ou não tem.

Por que a escolha de escrever somente para crianças e jovens?
Acho que eu tenho mais talento para isso. Sinto que escrevo com mais alegria, com mais facilidade, com mais vontade para as crianças. Talvez seja pelo fato de eu ter tido uma fase profissional muito grande com as criança - tive 15 anos de orientadora, fora minha infância que foi muito cheia de criança. Mas eu acho que não se tem que classificar muito, essas coisas acontecem, vêm e, quando a gente vê, aconteceu.

Como facilitar o acesso ao livro e à informação para esses pequenos leitores?
Eu posso te responder porque sou uma cidadã e devo ter opiniões a respeito, mas esse não é papel do escritor. O papel do escritor, na verdade, é escrever. O texto do escritor é o que importa. Mesmo a fala do escritor é secundária. O importante é o texto. Aquilo que nós temos de melhor está no texto. Acho, como cidadã, que é importante que a criança tenha acesso. Eu, por exemplo, faço parte de uma entidade chamada Instituto Brasil Leitor e o nosso objetivo é fazer bibliotecas. Já montamos 17 bibliotecas em São Paulo e estamos com um planejamento de quase 100 em São Paulo. O nosso objetivo é levar o livro.

E a senhora acha que o livro está sendo substituído pelo e-book?
Não, não está. Mas pode ser que um dia venha a ser. O e-book ainda não tem características físicas que possam competir com o livro. Ele tem uma cara de maquininha né! (risos...) Então eu acho que não. Na história da humanidade já houveram muitos tipos de livro, desde os de folha de palmeira, de rolo de papiro, de tabuinha de barro... Agora, o livro tal como nós conhecemos tem 500 anos. Ele tomou uma forma muito exitosa, vem servindo a humanidade há muito tempo. Mas, se vai virar e-book, eu também não sei. Depende do e-book ter uma forma física, que não sei qual é, e que substitua o cheiro do livro, a beleza do livro, o volume do livro e tudo isso a que nós estamos acostumados a manusear. Eu, por exemplo, amo livro. A forma física do livro me encanta.

Como surgiu a idéia de reescrever Odisséia?
A idéia é muito antiga, de quando trabalhava na editora Abril. Eu tinha uma amiga, a Edi Lima, escritora gaúcha, e ela falava sempre que o seu marido contava a Odisséia para os filhos e eles amavam. Aí nós encontramos o Otaviano Di Fiore, que trabalhou conosco, e também contava a história para os filhos. Então eu dizia pra ele: escreva a Odisséia para as crianças! (porque ele escrevia muito bem para as crianças). Mas ele acabou não fazendo. Um dia eu falei: O Otaviano não vai mais fazer isso, ele está noutra, e eu vou escrever. E adorei fazer! É maravilhoso! Odisséia é um livro maravilhoso. Agora, estou pensando se faço a Ilíada.

A senhora esperava um público infantil tão presente na 1ª Jornadinha Nacional de Literatura?
Ah, é maravilhoso né!? Quando eu vim ela era pequinininha, agora é uma coisa grandiosa. Mas é interessante porque ela tem o mesmo espírito que tinha: de vanguarda, de entusiasmo, de ambição mesmo. Eu acho fantástico!

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Ruth Rocha: Biografia de uma escritora apaixonada

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